Notes from the Hollow

 sinto-me vazia,

como uma casa limpa demais —
ecoando passos que já não são meus.
mas, por um instante,
essa ausência sabe a paz.
estou vazia,
e ainda assim… completa.
um corpo que respira
mesmo sem saber porquê.

sinto-me feliz, às vezes.
com o sol a bater na cara,
com o cheiro do vento,
com uma canção que me abraça.
mas logo a seguir,
vem aquela tristeza sem nome,
como um visitante antigo
que nunca devolveu a chave.

sinto-me bem,
mas como quem chegou atrasada
a uma festa que já terminou.
a vida acontece à minha frente,
em multidões, risos, decisões —
e eu?
eu assisto.
como quem espreita por uma janela
trancada do lado de dentro.

as minhas relações…
todas quebradas por mãos que tremem demais.
inseguranças minhas a cavar abismos
onde só queria plantar flores.
dei-me em excesso,
como quem tenta preencher o outro
para não sentir o vazio em si.

agora sinto-me usada,
estranha,
como uma nota fora da melodia.

há dias em que sou só névoa.
sem forma, sem direção.
metade de mim vive,
a outra metade assiste —
em silêncio,
com a alma encostada à parede do peito,
a ver o mundo passar
como um filme que nunca me incluiu no enredo.

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