It was never laziness
não sou o que os teus olhos julgam.
não sou a preguiça que ecoa nas tuas palavras secas,
nem a sombra de desinteresse que pintas sobre mim.
sou o cansaço que não se mede no corpo,
sou a tristeza entranhada nos ossos,
essa que me cala as vontades
e me dobra as asas antes de sequer tentar
não é desdém, não é arrogância —
é apenas o peso,
esse peso invisível que me afunda devagar,
enquanto tu me olhas como se a minha alma
fosse um quarto por arrumar.
há dias em que até os sonhos me pesam,
dias em que amar aquilo que amo
me exige um esforço brutal,
como carregar um mundo nos ombros frágeis
de quem já esqueceu o que é ser leve.
tu vês desistência onde há luta,
vês preguiça onde há dor cravada a sangue-frio,
vês estupidez onde há cansaço mental,
antigo como a primeira noite em que me calei
para não desapontar.
sou feita de silêncios que não entendes,
de músicas tristes que me salvam,
de lágrimas que prefiro esconder,
porque o mundo — e tu — nunca souberam
o que fazer com a minha tristeza.
não sou falta de vontade.
sou excesso de dor.
sou a filha que chora em silêncio,
que se esconde na música
porque a música não me julga,
não me manda levantar,
não diz "outra vez com essa cara?"
não sou preguiçosa.
só sou triste.
só queria que me visses —
para além da tua ideia de mim.
porque tudo o que eu preciso
não é um sermão,
é um abraço onde caiba
a minha falha sem culpa.
para poder desabar.
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