Homesick for Sadness
há um consolo estranho no silêncio..
como se o vazio me falasse em segredo
e eu, muda, entendesse tudo?
choro sem razão concreta —
ou talvez com todas as razões do mundo
que se dissolvem antes de serem ditas,
como sal na água dos meus olhos.
serei eu doida?
para muitos, o sono é um refúgio,
um afundar manso para escapar à dor.
já eu, encontro conforto
em deixá-la acordada comigo,
em pôr-lhe uma cadeira à mesa,
servir-lhe chá morno
e ouvi-la contar histórias que não têm fim.
há noites em que a tristeza é um abrigo,
e o peito, uma casa com janelas partidas
por onde o vento entra sem pedir licença.
mas eu deixo.
deixo porque há ternura na dor
quando ela é velha, conhecida.
uma canção triste toca,
e sinto-me inteira, finalmente.
não feliz — mas inteira.
como se a dor fosse a única coisa
que me reconhece sem maquilhagem,
sem sorrisos por obrigação.
não sei dizer o que me aperta
nem nomear a sombra que me veste,
mas há beleza no escuro,
e uma paz mórbida na mágoa.
gosto de estar sozinha
com os fantasmas que me entendem.
preciso da tristeza —
como quem precisa do sono,
ou de uma pausa para ser ninguém.
há quem fuja do choro —
eu, não.
eu abraço-o como quem reencontra um velho amigo
que nunca julga,
apenas fica.
fica até o peito se acalmar
sem nunca pedir explicações.
porque é a única coisa
que não me mente.
talvez eu seja feita desta falta —
desta ânsia de sentir tudo,
sentir tudo
mesmo que doa.
principalmente se doer.
será isto fugir,
ou apenas ser verdadeira
num mundo que grita
para fingirmos que estamos bem?
ou talvez eu esteja bem
à minha propria maneira
uma estranha, mas que me conforta
Comentários
Enviar um comentário